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  • Foto do escritorEduardo Muniz

Por que não falamos sobre compostagem tanto quanto deveríamos?

Atualizado: 4 de abr. de 2023


Há alguns meses eu decidi aproveitar um espaço no quintal da casa da minha mãe para finalmente fazer uma composteira. Sempre tive vontade de fazer uma e fui estudando aos poucos qual a melhor forma de fazer. Hoje uma amiga me mandou mensagem falando que a irmã dela quer construir uma também, e isso me deixou muito animado, pois, apesar do tema de compostagem ter se popularizado nos últimos anos, ainda é uma prática pouco conhecida pela maioria das pessoas e pouco ensinada nas escolas ou outros espaços de educação, portanto, pouco executada.


A compostagem é uma das práticas mais antiga realizada pelo ser humano, com registro em civilizações da antiguidade como os egípcios, romanos, astecas e chineses. Nada mais é do que o processo de decomposição de restos de matéria orgânica provenientes de diversos tipos de atividades, como, por exemplo, restos de comida da nossa casa, tais como cascas de frutas e sobras das refeições. Toda essa matéria orgânica vai passar pelo processo de decomposição, feito pelos decompositores, fungos e bactérias. Além disso, esse é um processo que também ocorre na natureza sem intervenção humana, e é bastante importante para a saúde do solo nas florestas.


Depois que comecei a estudar sobre o processo de compostagem e entender sua importância, passei a me questionar por que algo tão incrível não é tão popular. Muito se fala da reciclagem de produtos como plástico e metal, mas pouco se fala do que fazer com o que sobra de comida na nossa casa, nos restaurantes ou nas indústrias, por exemplo, esses resíduos orgânicos formam uma boa parcela do lixo total produzidos diariamente. Com a compostagem a gente consegue aproveitar esses restos.


Sabemos que o processo de reciclagem de materiais como papel, plástico e metais, apesar de serem importantes, não conseguem dar conta do que é produzido todos os dias, ou seja, focamos em reciclar esses materiais, com campanhas de conscientização, mas não focamos em reduzir seu uso e produção e nem de diminuir a dependência dos mesmos. Mas, isso é tema de para um próximo post.


Quando fungos e bactérias se alimentam dos restos orgânicos, eles geram o chamado adubo. O adubo é o produto da decomposição, rico em nutrientes que estavam presentes nos restos biológicos, tendo sido liberados pelos fungos e bactérias depois que os mesmos se "alimentaram" desses restos. A gente também tem a participação muito importante de um bicho que nem todo mundo gosta por achar nojento ou por medo: as minhocas. Elas também se alimentam de restos de matéria orgânica e ao defecarem liberam no solo uma excreta rica em nutrientes, formando o húmus. Além disso, as minhocas criam as chamadas galerias no solo que o torna mais aerado e melhora o fluxo de água e nutrientes na terra.


A compostagem além de ser um importante processo para o meio ambiente é uma excelente ferramenta pedagógica que pode ser aplicada, não só em escolas, para demonstrar diversos temas na prática como, por exemplo, descarte e reaproveitamento de resíduos e saúde do solo, o papel dos decompositores, ou para falar das minhocas e seu filo Annelida. Podemos também focar no processo de funcionamento da compostagem, abordando temas como microbiologia, ciclo dos nutrientes e cadeias tróficas.


Outra atividade que anda de mãos dadas com a compostagem e que serve como uma extensão dos seus conhecimentos é a criação de uma horta, seja nos espaços escolares ou comunitários. Eu considero que a junção da atividade de compostagem com hortas representa o ideal de metodologias para ensinarmos sobre reciclagem, reaproveitamento, soberania alimentar, cuidados com o solo e sustentabilidade. Mas, para a imensa maioria das escolas brasileiras e outros espaços de aprendizado, esse ideal ainda é utópico.


Infelizmente a técnica de compostagem, mesmo presente no Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), e com tantos benefícios, ainda é pouco utilizada, seja por grandes empresas ou de forma caseira, por conta de uma série de fatores, como falta de investimentos e planejamento por parte do poder público, pois é um processo que demanda recursos e mão de obra caso seja feito em grande escala, e também por falta de educação ambiental para levar informações até as pessoas sobre o processo e como ele pode beneficiar a natureza, a sociedade e como elas podem participar ativamente disso. Há quem considere a ideia de mexer com o lixo algo sujo e desnecessário, gerando um certo bloqueio para falar sobre a técnica.


É muito comum, por exemplo, as atividades de educação ambiental dentro das escolas serem voltadas a reciclagem de plástico, papel, metal e vidro, através do incentivo a coleta seletiva, mas pouco se aborda sobre a reciclagem dos orgânicos. O que chama a atenção é que a reciclagem de matéria orgânica pode ser feita em casa, sem a necessidade de grandes processos industriais, como o do vidro ou do plástico, por exemplo. Ou seja, a transformação do lixo orgânico produzido por nós é mais acessível e pode ser reciclado com menor custo, mas, ao mesmo tempo, pouco incentivada.


A técnica de compostagem serve como uma alternativa para diminuir os impactos causados pela geração de resíduos orgânicos, pois se reciclarmos esses resíduos a gente evita que eles sejam jogados nos lixões e aterros sanitários. Então imagina só, se cada pessoa tiver sua composteira dentro de casa (e nem precisa ter um quintal, dá para fazer com baldes, por exemplo), ou cada mercado, restaurante e indústria construir sua composteira, menos lixo orgânico vai ser enviado para os lixões ou aterros, o tamanho dos aterros passa a diminuir e menos gás metano, proveniente da decomposição desse lixo, será lançado na atmosfera. Além disso, outro problema que a compostagem pode ajudar a diminuir é o desperdício de alimentos, que no Brasil chega a cerca de 25 toneladas por ano.


Precisamos debater mais sobre a reciclagem de orgânicos, tanto quanto falamos da reciclagem de outros materiais. Ainda existe muita desinformação sobre a compostagem, então nós, professores e educadores ambientais precisamos trabalhar com nossos alunes e educandes, incluindo falar sobre tal prática nas nossas aulas e palestras, tornado-a mais comum, incentivando a população a ser protagonista no processo de sustentabilidade.


Se você quer fazer uma composteira na sua casa para aprender na prática como que funciona, existem diversas formas e modelos, que não custam caro e não ocupam muito espaço. No meu caso eu aproveitei o espaço do quintal e fiz no chão mesmo. É interessante você fazer da maneira que melhor se encaixe na sua realidade, basta dar um Google e procurar sobre o processo e as diferentes formas de fazê-lo. De quebra, se você tiver plantas em casa, você pode utilizar o adubo nelas. O importante é aprender novas habilidades, mudar os hábitos e ser protagonista do processo de sustentabilidade e levar esse conhecimento adiante, incentivando a popularização da técnica.


Referências


CARVALHO, S; LIMA, N. Compostagem doméstica em Educação Ambiental: potencial de uma abordagem holística. Revista CAPTAR: Ciência e Ambiente para Todos, v. 2, n. 2, p. 40-54, 2010. ISSN 1647-323X. Disponível em: < http://hdl.handle.net/1822/10657 >. Acesso em 28 jan. 2015.


Zago, V. C. P.; Barros, R. T. D. V. Gestão dos resíduos sólidos orgânicos urbanos no Brasil: do ordenamento jurídico à realidade. Eng. Sanit. Ambiental 2019, 24, 219– 228, DOI: 10.1590/s1413-41522019181376.


Buss, A., & Moreto, C. (2019). A prática da compostagem como instrumento no ensino de conteúdos e na Educação Ambiental Crítica. Revista Monografias Ambientais, 18(1), e6. https://doi.org/10.5902/2236130839699.

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